Eram três da manha.
O relógio era implacável. O relógio? Bondade minha pensar assim, o relógio era só mais um escravo que não sabia de nada, o relógio era só um motor, um emaranhado de engrenagens que mal sabiam marcar o tempo corretamente, pois às vezes errava e ficava atrasado demais e, outrora, adiantado demais. Qualquer um pode ser pontual se quiser, não importa quem seja; qualquer um consegue chegar e estar na hora certa; mas um relógio jamais conseguirá ser pontual, o relógio sempre erra e sempre engana... Descartes e Newton que me desculpem, mas o relógio não é digno de louvor algum, pois é a maior das mentiras que a humanidade já inventou! Depois do glamour da música pop, é claro!
Mas se eram três da manhã ou não eram eu não sei bem, mas o relógio jurava que sim e eu acreditei, cai feito um patinho.
Eu era muito ingênuo para evitar essas armadilhas que a vida nos trás, eu era como um boneco de corda que ia para onde e quando me mandassem ir, eu era muito... humano.
Liguei a TV, mas não para assistir ou me distrair, liguei somente para constar que eu estava ali, que havia vida naquela medíocre casa com aqueles medíocres móveis, com aquela porcaria de vitrola que só tocava a porcaria do disco do Led Zeppelin que eu tanto amava. A porcaria maior ali era eu, por isso liguei a TV.
Passava qualquer coisa, não me lembro o que. Não me lembro se era um filme ou se era apenas chiado de um canal que àquela hora estava fora do ar. Ou você acha que eu iria lembrar de tantos detalhes às três horas da manhã? Tá bom! Eu sei que não eram três, mas o relógio me fazia pensar que era, poderia ser três e um da manhã ou duas e cinqüenta e nove ainda, eu realmente não sei. Ainda mais porque se eu soubesse o que iria ocorrer naquela noite, teria afixado melhor tudo na minha mente, mesmo se eu não quisesse.
Muitas e muitas vezes, tentei me atentar a mais detalhes, mas tudo o que me ocorria era que o relógio marcava três da manhã e que a TV estava ligada, mesmo sabendo que o relógio era tão confiável quanto as dicas de amor de um homem solitário...
Acho mais prudente não fazer mais comparações daqui em diante.
Quando a campainha tocou, eu, pela primeira vez, senti uma vontade louca de atender. Naquela vida medíocre de TV ligada e de um vinil do Led Zeppelin em uma vitrola desligada, o que poderia ser mais emocionante do que atender a campainha às três da manhã? Ou será às duas e cinqüenta e nove? Que seja! Maldito tempo, maldito relógio.
Foram doze tiros. Primeiro seis, uma pausa... outros seis.
O homem trajava preto, usava uma máscara de igual cor que lhe cobria toda a face. Apesar de não conseguir visualizar a sua expressão, era nítido o seu desespero, em sua tragicômica transfiguração de medo para revolta. Ele hesitou vários, vários e incontáveis segundos para depois atirar.
Foi então que freneticamente percebi que tudo ali era uma farsa, notei que o relógio havia mentido e vi que a TV não era só uma demonstração que eu estava ali, vi que a TV era eu mesmo pedindo para alguém abrir a porta e me matar daquela madrugada de desespero e solidão.
O relógio era implacável. O relógio? Bondade minha pensar assim, o relógio era só mais um escravo que não sabia de nada, o relógio era só um motor, um emaranhado de engrenagens que mal sabiam marcar o tempo corretamente, pois às vezes errava e ficava atrasado demais e, outrora, adiantado demais. Qualquer um pode ser pontual se quiser, não importa quem seja; qualquer um consegue chegar e estar na hora certa; mas um relógio jamais conseguirá ser pontual, o relógio sempre erra e sempre engana... Descartes e Newton que me desculpem, mas o relógio não é digno de louvor algum, pois é a maior das mentiras que a humanidade já inventou! Depois do glamour da música pop, é claro!
Mas se eram três da manhã ou não eram eu não sei bem, mas o relógio jurava que sim e eu acreditei, cai feito um patinho.
Eu era muito ingênuo para evitar essas armadilhas que a vida nos trás, eu era como um boneco de corda que ia para onde e quando me mandassem ir, eu era muito... humano.
Liguei a TV, mas não para assistir ou me distrair, liguei somente para constar que eu estava ali, que havia vida naquela medíocre casa com aqueles medíocres móveis, com aquela porcaria de vitrola que só tocava a porcaria do disco do Led Zeppelin que eu tanto amava. A porcaria maior ali era eu, por isso liguei a TV.
Passava qualquer coisa, não me lembro o que. Não me lembro se era um filme ou se era apenas chiado de um canal que àquela hora estava fora do ar. Ou você acha que eu iria lembrar de tantos detalhes às três horas da manhã? Tá bom! Eu sei que não eram três, mas o relógio me fazia pensar que era, poderia ser três e um da manhã ou duas e cinqüenta e nove ainda, eu realmente não sei. Ainda mais porque se eu soubesse o que iria ocorrer naquela noite, teria afixado melhor tudo na minha mente, mesmo se eu não quisesse.
Muitas e muitas vezes, tentei me atentar a mais detalhes, mas tudo o que me ocorria era que o relógio marcava três da manhã e que a TV estava ligada, mesmo sabendo que o relógio era tão confiável quanto as dicas de amor de um homem solitário...
Acho mais prudente não fazer mais comparações daqui em diante.
Quando a campainha tocou, eu, pela primeira vez, senti uma vontade louca de atender. Naquela vida medíocre de TV ligada e de um vinil do Led Zeppelin em uma vitrola desligada, o que poderia ser mais emocionante do que atender a campainha às três da manhã? Ou será às duas e cinqüenta e nove? Que seja! Maldito tempo, maldito relógio.
Foram doze tiros. Primeiro seis, uma pausa... outros seis.
O homem trajava preto, usava uma máscara de igual cor que lhe cobria toda a face. Apesar de não conseguir visualizar a sua expressão, era nítido o seu desespero, em sua tragicômica transfiguração de medo para revolta. Ele hesitou vários, vários e incontáveis segundos para depois atirar.
Foi então que freneticamente percebi que tudo ali era uma farsa, notei que o relógio havia mentido e vi que a TV não era só uma demonstração que eu estava ali, vi que a TV era eu mesmo pedindo para alguém abrir a porta e me matar daquela madrugada de desespero e solidão.
4 imaginações a respeito:
Eu sempre fico algum tempo olhando a caixa da vida, antes de escrever qualquer coisa aqui. Eu nunca sei o que dizer. Mas algo mais forte que eu quer gritar como eu fico feliz em ler seus textos.
Você nunca vai saber como são belos, porque é você quem os escreve.
Mas eu sei como são. Porque somente os leio.
Belíssimo!
Alice
Você também nunca vai saber o quanto os seus comentários são importantes pra mim. Porque somente eu sei da alegria que sinto quando os leio.
=*
Putz! Merecia o primeiro lugar!
Já havia lido outros escritos seus, no entanto este me tocou muito mais.
Lindo
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Eis a caixa da vida. Quem aqui escreve algo, mostra que não está morto...